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Para se recolocar, profissional sênior precisa deixar o orgulho de lado

Apesar das dificuldades em recolocação, muitos profissionais com 50, 60 anos ou mais, relutam em aceitar mudanças significativas de carreiras

É fato que, no Brasil, profissionais com mais de 45 anos têm dificuldades em se recolocar. Uma pesquisa da PriceWaterhouseCoopers (PWC) mostra que profissionais acima dessa faixa etária representam apenas 24% da força de trabalho no país, contra 38% nos Estados Unidos. Segundo Luciana Tegon, sócia diretora da Tegon Consultoria, a empregabilidade dos profissionais com mais de 45 anos melhora quando há falta de profissionais qualificados no mercado e piora quando há mais jovens desempregados:

“Embora estes profissionais possam ser excelentes aquisições para quaisquer empresas, os empregadores relutam em função de gastos adicionais com saúde, menor disponibilidade do profissional para viagens e até a baixa propensão a aceitar salários baixos ou tarefas operacionais”, explica Luciana.

Apesar das dificuldades em recolocação, muitos profissionais com 50, 60 anos ou mais, relutam em aceitar mudanças significativas de carreiras, insistindo em buscar oportunidades iguais às que tinham quando deixaram o último emprego, o que é algo praticamente impossível nos dias de hoje:

“Pergunte a uma pedagoga de 62 anos, que acabou de deixar um emprego em uma escola, se ela aceita fazer um curso técnico para se tornar uma massagista e as chances de encontrar alguém que responda sim a essa pergunta são remotas. No entanto, foi o que aconteceu com a pedagoga Bernardete Santos, que cursou massoterapia no Pronatec e seguiu trabalhando, preservando sua renda e sanidade mental. Nos Estados Unidos, por exemplo, andando pelos parques, shoppings e supermercados, vemos muitos funcionários na limpeza, organização e atendendo nas lojas. Conversei com alguns e constatei que são ex-gerentes de vendas, ex-secretárias e ex-executivos de empresas. Eles me disseram que continuavam a trabalhar para manter a atividade intelectual, a independencia financeira e o padrão de vida desejado, algo impossível apenas com a aposentadoria oficial. E quando eu quis saber se a mudança profissional os afetava de alguma forma, eles me disseram que todo trabalho é digno”, assinala Luciana.

Mas, no Brasil, explica a diretora da Tegon Consultoria, um ex-diretor de empresas rejeita oportunidades como gerente, uma vez que isso significaria uma “redução de status e de salário”. E a maioria absoluta rejeita oportunidades em outros segmentos que não aqueles onde atuavam, inclusive a possibilidade de abrir um negócio próprio:

“Aqui no Brasil esta opção não parece estimular os profissionais mais velhos. Converso com muitos seniores brasileiros que simplesmente não conseguem se imaginar fazendo um curso técnico de massoterapia ou como vendedores de lojas. Enquanto muitos insistem em voltar a ocupar a posição que tinham no passado, com chances remotas, a verdade é que existem algumas opções interessantes de carreira após os 50 anos como corretores de imóveis e de seguros, pesquisadores, professores não apenas do ensino superior, mas também para o ensino médio, além de profissionais de atendimento ao público entre outros”, assinala Luciana.

O maior entrave, acredita Luciana, é o orgulho que faz do brasileiro um refém do passado. Para muitos executivos demitidos aos 50 anos ou mais, recuperar a posição perdida significa dar uma “resposta” aos que o demitiram, ao passo que aceitar uma posição inferior seria “reconhecer o fracasso”:

“Poucos percebem que a verdade, mesmo, é que são raros os que se lembram deles nas empresas em que deixaram e que o importante é seguir a vida, preservar o patrimônio, manter-se ativo e espiritualmente saudável. Os brasileiros precisam entender, urgentemente, algo que os norte-americanos já sabem há muito tempo: todo o trabalho é digno. E se alguém acha que você “decaiu” porque se tornou um corretor de imóveis ou atendente de loja, essa pessoa também vai enfrentar dificuldades quando ela própria ultrapassar os 45 anos e vier a perder o emprego. Conheço até um diretor de empresa que foi demitido e após um período de luto aceitou abrir uma loja de reparo de eletrodomésticos dentro da loja de roupa de sua mulher, com ótimos resultados financeiros”, conclui Luciana.

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