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Fim da exclusividade aumenta disputa entre máquinas de cartões

Lojistas podem aproveitar a mudança para reduzir as despesas com aluguel de POS e taxa de desconto

Após mais de dois anos de recessão, mesmo as perspectivas mais otimistas ainda são de retomada lenta das vendas do comércio nos próximos meses -o que continuará a exigir dos lojistas atenção redobrada na gestão das despesas.

Uma boa notícia é que mudanças recentes no mercado de cartões vêm aumentando a competição entre as credenciadoras (empresas donas das maquininhas), o que já teve reflexos nas taxas de desconto (paga pelos lojistas sobre o valor de cada venda no cartão) e no número de maquininhas.

Até 2010, somente as maquininhas da Visanet (que mudou de nome para Cielo) aceitavam cartões com a bandeira Visa, enquanto a bandeira Mastercard era exclusividade das maquininhas da Redecard (hoje apenas Rede).

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Com o fim da exclusividade entre essas credenciadoras e bandeiras naquele ano (a Visanet também passou a aceitar Mastercard e a Redecard, a aceitar Visa), novos competidores entraram no mercado (oferecendo maquininhas que aceitavam ambas as bandeiras).

Com isso, a taxa de desconto média sobre as vendas no cartão de crédito passou de 2,90% em 2010 para 2,78% em 2011, mantendo-se relativamente estável neste patamar até 2015.

A estabilidade da taxa no período pode estar associada, entre outros fatores, ao surgimento de novas barreiras à competição.

Naquele mesmo 2010, três grandes bancos se juntaram para criar a bandeira Elo, que, por um lado, acirrou a competição entre as bandeiras – mercado até então dominado pelas estrangeiras Visa e Mastercard –, mas, de outro, limitou a competição entre as maquininhas, já que a Elo era aceita apenas na Cielo –assim como o Hipercard, por exemplo, era aceito apenas nas maquininhas da Rede.

Na metade de 2016, a Elo já respondia por mais de 15% das transações com cartões de débito emitidos no Brasil.

A Hipercard, por sua vez, representava 4% das transações com cartão de crédito. Com cada vez mais cartões dessas bandeiras nas mãos dos consumidores, o estabelecimento que não tivesse maquininhas da Cielo e da Rede corria o risco de perder vendas.

O Banco Central, órgão regulador do mercado de cartões, passou a pressionar as credenciadoras para acabar com a exclusividade em arranjos de pagamento que ganharam muita relevância, como o da Elo.

Assim, a partir de 2016, uma única maquininha passou a aceitar praticamente todas as bandeiras existentes.

A mudança já teve impactos significativos no mercado. As novas credenciadoras passaram a oferecer mais bandeiras, acirrando a competição e derrubando as taxas.

A taxa média de desconto sobre as vendas no cartão de crédito caiu de 2,77% em 2015 para 2,65% em 2016. No débito, ela passou de 1,54% para 1,52%.

Outras inclui Santander, Banrisul, Elavon, Banestes, Banpará, Cetelem, Bancoob, BRB, Pan e Bonsucesso

Mais lojistas firmaram acordos com as novas credenciadoras, que viram crescer seu número de estabelecimentos ativos credenciados.

Já a quantidade de estabelecimentos credenciados pelas duas maiores empresas do mercado caiu em relação a 2015, conforme mostra o gráfico.

Com uma única maquininha aceitando mais bandeiras, os lojistas também passaram a poder abrir mão dos serviços de mais de uma credenciadora, reduzindo, assim, as despesas com o aluguel das maquininhas.

O número de maquininhas, por sinal, caiu pela primeira vez desde 2008, passando de 4,565 milhões em 2015 para 4,424 milhões em 2016.

Os efeitos do aumento da competição não se restringem às taxas de desconto e ao aluguel das maquininhas, estendendo-se a outras despesas dos lojistas com a operação de cartões, como as taxas de juros da antecipação de recebíveis (valor a receber das vendas já realizadas no cartão de crédito), por exemplo. Afinal, as novas credenciadoras também oferecem esse tipo de empréstimo.

Outra boa notícia para os lojistas é a queda da Selic, que, de acordo com projeções dos analistas consultados pelo Banco Central, deve chegar a 8% até o final do ano, barateando as linhas de crédito, como a de capital de giro, por exemplo.

Para quem quer diminuir ainda mais os gastos com juros, a nova lei que permite a cobrança de preços diferenciados de acordo com o prazo e o meio de pagamento pode ser aproveitada para alavancar as vendas no débito, cujo prazo de recebimento é de apenas 2 dias (contra 30 dias das vendas realizadas no cartão de crédito).

SIMULAÇÃO

Imaginemos uma microempresa que fature R$ 360 mil por ano (o equivalente a R$ 30 mil por mês). Além disso, suponhamos que este estabelecimento realize um terço das vendas no cartão de crédito, um terço no cartão de débito e um terço no dinheiro.

Digamos que ela pague 2% sobre cada venda no cartão de débito, 5% sobre cada venda no cartão de crédito e antecipe 100% dos recebíveis das vendas no cartão de crédito (apenas vendas em uma única parcela) a uma taxa de juros de 3% e, além disso, alugue duas maquinhas a um custo de R$ 200 por mês (R$ 100 cada).

As despesas das vendas com cartão, assim, seriam de R$ 1.200 por mês (R$ 14.400 por ano). A isenção do aluguel de uma das maquininhas, a redução de 5% para 4% da taxa de desconto das vendas no crédito e de 3% para 2% da taxa de juros da antecipação de recebíveis já derrubariam as despesas mensais da operação de cartão para R$ 900 (economia de R$ 3.600 por ano, ou 1% do faturamento).

Partindo das condições iniciais, se, em vez de R$ 10.000 por mês de vendas no cartão de débito e R$ 10.000 no cartão de crédito, a composição das vendas mudasse para R$ 15.000 no débito e R$ 5.000 no crédito, as despesas mensais da operação de cartão também cairiam para R$ 900 (economia de R$ 3.600 por ano).

Claro que parte dessa economia seria provavelmente utilizada para incentivar as vendas no débito com descontos no valor das mercadorias.

DICAS PARA LOJISTAS

•Aproveite o aumento da competição e as mudanças no mercado (ampliação da aceitação das principais bandeiras para todas as maquininhas) para negociar taxas e reduzir despesas com vendas no cartão.

•Procure bancos e credenciadoras, conheça melhor os serviços oferecidos e peça propostas comerciais. Os principais bancos já oferecem pacotes integrados de serviços bancários e de cartões. Avalie e escolha a empresa que apresentar a melhor relação custo-benefício para o perfil do seu estabelecimento.

•A nova lei que permite a cobrança de preços diferenciados de acordo com o prazo e o meio de pagamento pode ser aproveitada para melhorar a gestão do fluxo de caixa e reduzir as despesas com juros.

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