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Vale tudo para manter o caixa saudável

Fonte: Jornal do Comércio
Erik Farina Com o agravamento da crise mundial e o cenário de incertezas para 2009, a ordem é ter capital em caixa para se prevenir do pior. A retenção de recursos nas empresas, vista há até pouco tempo como um conservadorismo excessivo diante de tantas opções de investimentos financeiros e estruturais, passou a ser apontado como antídoto primordial para sobreviver à turbulência. Afinal, o crédito está escasso, e conseguir dinheiro no mercado se tornou uma tarefa quase impossível ou extremamente cara. "As empresas com liquidez levarão vantagem nas negociações e manutenção de estoques neste período de crise", acredita Alfredo Meneghetti Neto, professor de economia da Pucrs e membro da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Estas companhias ganharão mais poder de barganha no momento de fechar contratos e principalmente terão uma reserva importante perante um cenário que anuncia recessão. Por isso, passa a dominar o ambiente corporativo um clima desafiador no sentido de reduzir despesas, aumentar receita e qualificar a gestão. Tudo para fortificar o capital próprio da companhia e garantir giro na adversidade. "Por muito tempo, ajustar as contas da empresa significava aumentar preços e cortar cafezinhos. Agora, os gestores terão que ir muito mais longe na reorganização de suas companhias para sobreviverem à crise", afirma Antônio Marinho, diretor da faculdade de Administração da ESPM-RS. O cenário é ainda mais grave em empresas de pequeno e médio porte. Sem capital aberto, o que é uma barreira para bater nas portas de instituições financeiras estrangeiras, e com volume de vendas menor do que as grandes fabricantes, estas companhias costumam ter capital de giro menor, limitando sua capacidade de investimento. Também ficam às margens das linhas de crédito mais generosas, com juros pautados pela TJLP ou Selic, disponíveis especialmente às grandes organizações. No momento da crise, vale tudo. Adoção de ferramentas de gestão e endurecimento no momento das negociações são algumas das dicas apontadas por especialistas para passar ileso pela tempestade nos mercados. "O desafio é manter os recursos por mais tempo na empresa, antecipando receitas e tentando prorrogar as despesas, além das medidas para melhorar o fluxo de caixa da empresa", explica Kelly Carvalho, economista da Fecomércio de São Paulo. A entidade prepara uma cartilha com dicas para as pequenas empresas ganharem mais oxigênio no mercado nos próximos meses - que, por sinal, prometem ser mais cruéis com o Brasil. O documento é claro: as companhias precisam arregaçar as mangas para melhorarem seus processos e revolucionar sua gestão financeira. Objetivos: eliminar gastos que não resultam diretamente em rentabilidade às companhias. O momento também surge como ideal para que as companhias reservem um tempo para rever suas estratégias de curto e médio prazos e se redimensionem os planos de negócios. Eliminar gargalos, reduzir desperdícios e rever contratos e preços das mercadorias são medidas que trazem resultados não apenas para os próximos meses, mas garantem mais produtividade à organização por um longo período, indo adiante da crise. Empresas podem contratar garantidoras Contratar empresas de garantia de crédito pode ser uma boa alternativa para as micro e pequenas empresas nesta época de escassez de recursos. Há alternativas no Rio Grande do Sul de organizações que avaliam o projeto de empreendedores e podem dar garantias para o montante que será buscado junto a uma instituição financeira. Duas destas empresas são parceiras do Sebrae-RS e têm crescido de importância e aumentado os negócios no momento de crise: a Garante-RS e o GarantiSerra. O empresário paga uma pequena taxa sobre o empréstimo para acessar seus serviços. "Os recursos não são do Sebrae e nem da instituição de garantia, mas o conjunto destas ferramentas facilita a vida do pequeno empreendedor no momento de buscar recursos", explica Marta Folha, assessora de Captação de Recursos e Acesso a Serviços Financeiros do Sebrae. Na GarantiSerra, a procura pelos serviços aumentou em 20% no último semestre de 2008 em relação ao mesmo período do ano anterior. A organização oferece carta de garantia de até 80% do montante requisitado, sendo que o limite é de R$ 100 mil por operação. "Um agente nosso visita a empresa e colhe as informações sobre a operação, garantindo a liberação da carta em até três dias", explica o diretor Fernando Vial. Uma das companhias que contratou o serviço foi a Infolíder, que atua com informática em Caxias do Sul. A empresa viu seu capital de giro reduzir com o agravamento da crise mundial e não viu alternativa senão ir ao mercado financeiro. A conquista de uma carta de crédito de R$ 15 mil deverá dar fôlego à companhia para encarar os próximos meses e renovar parte de seus equipamentos. Renegociação de contratos otimiza o fluxo Não tem jeito: na crise, é melhor estar preparado para pressionar fornecedores - e ser pressionado pelos clientes - por todos os lados em busca de renegociação de preços e prazos. Uma das medidas mais adequadas neste período é sentar com os stakeholders (público afetado pelas atividades da companhia) e trabalhar lado a lado para garantir a sobrevivência de todos. Com os fornecedores, a regra é esticar prazos de pagamento e rever contratos já assumidos. O desafio aí é evitar despesas pesadas na compra de material e serviços em um momento em que conseguir reter dinheiro no caixa é sagrado. Já os novos contratos de fornecimento devem ser feitos com ainda mais critério do que vinha ocorrendo até o momento: o contrato só pode ser assinado após se avaliar todas as opções, comparar taxas e conseguir descontos em pagamento avista. "É preciso renegociar com os fornecedores, e se percebe que há uma tolerância média de redução de até 20% nos valores dos contratos, após o agravamento da crise financeira", observa Antônio Marinho, da ESPM-RS. Por outro lado, uma companhia que quer garantir musculatura nos próprios meses terá de se virar para cobrar dos clientes exatamente o contrário: que aceitem prazos de pagamento mais curtos. A lógica é fazer o dinheiro entrar antes na companhia e sair o mais tarde possível. Também é recomendável que se negociem descontos dos clientes em atraso, mesmo que para isso se abra mão de ganhos mais polpudos no futuro. Ser flexível quanto aos descontos nas cobranças é uma atitude prudente neste cenário. Outra medida recorrente em épocas desfavoráveis é a reavaliação do perfil do endividamento, procurando renegociar com instituições bancárias e investidores saldos devedores e taxas aplicadas, especialmente quando o fluxo for minguado. É importante lembrar que este não é o momento para amortizar dívidas por antecipação quando entra mais dinheiro na companhia. Quando chegar o momento em que ir ao mercado financeiro seja inevitável, é melhor estar preparado. Especialistas recomendam que se aprimore a negociação com instituições financeiras para se conquistas serviços mais vantajosos. "A reciprocidade bancária, que consiste na escolha de apenas um banco para fazer negócios, dá mais poder de barganha às companhias e mais volume de capital para negociar condições favoráveis em taxas e prazos", sugere a economista Kelly Carvalho, da Fecomércio-SP. Processo produtivo precisa ser revisto As linhas de produção costumam ser um campo fértil para a redução de custos, especialmente após um período de bons negócios, em que as receitas generosas desobrigam as empresas a olharem com mais preocupação para seus gargalos e trabalharem sobre os desperdícios. No entanto, chegou a hora de rever fluxos e etapas produtivas para cortar gastos e salvar cada centavo que não esteja contribuindo para os resultados da empresa. Conforme a cartilha elaborada pela Fecomércio paulista, o primeiro passo é avaliar todas as perdas ao longo do processo de produção, logística e os trâmites administrativos. Fazer um mapeamento destes fluxos e promover pequenos investimentos para fechar as torneiras do desperdício pode garantir margens mais generosas para a companhia - e, evidentemente, mais dinheiro em caixa. Abrir mão de ativos que não estejam sendo rentáveis neste momento, seja vendendo ou paralisando as operações, pode ser algo necessário para melhorar os resultados. Aconselha-se que os contadores e profissionais de finanças avaliem separadamente o retorno sobre cada marca, cada unidade de produção e cada setor de atuação da empresa para saber quais segmentos são onerosos. A administração dos estoques também é uma estratégia que precisa ser pensada com carinho durante a crise. Manter estoques abarrotados de produtos - algo que pode se tornar inconvenientemente comum em tempos de baixa demanda - acarreta em gastos elevados com manutenção e desperdício de um espaço que poderia ser usado para a produção ou mesmo descartado. Por isso, uma velha ferramenta cultuada pelos japoneses pode ser colocada em prática neste momento: Just In Time (JIT), ou seja, a técnica de produção que trabalha pautada por previsões precisas de mercado, utilizando o mínimo de componentes. No caso das pequenas e médias indústrias, o JIT é ainda mais relevante para reduzir preços dos produtos e os tornar competitivos perante os das grandes concorrentes. O desafio neste caso é renegociar contratos mais flexíveis e imediatos com fornecedores, de modo a receber as encomendas de matérias-primas com rapidez e no volume exato para atender à produção imediata. "Uma forma segura de promover o Just In Time é fazer um estudo de demandas de cada linha de produtos e a sazonalidade, para que se possa prever o que será necessário de material e quando", observa Kelly Carvalho, economista da Fecomércio-SP. Quanto aos produtos já armazenados em estoques, aguardando pedidos de compradores que minguaram com a crise, a sugestão é de oferecer bons descontos para os clientes. Aumentar o volume de venda reduzindo preços é o cálice sagrado para limpar estoques - e mandar para bem longe os custos de sua gestão. Momento é oportuno para revisar os planos O momento é oportuno para que as companhias analisem com atenção como estão investindo seu capital e para onde estão indo seus recursos. Para as empresas que remuneram capital em aplicações financeiras, avaliar e comparar alternativas é uma atitude prudente - mesmo porque o mercado de ações, que era a vedete dos investidores nos últimos anos, já não é mais interessante para quem poderá ser obrigado realizar os lucros a qualquer momento. No caso dos investimentos produtivos traçados nos meses anteriores, e que começariam a ser colocados em prática em 2009, o recomendável é que se avalie o custo-benefício de cada um, tendo em vista a recente mudança no cenário econômico. Saber o que esperar dos aportes em máquinas e equipamentos são informações cruciais para decidir pela continuidade ou interrupção dos projetos. A partir destes cenários, também será possível avaliar o que é urgente para dar competitividade à empresa e o que pode esperar. "É recomendável que se aguarde a confirmação do cenário da economia antes de fazer investimentos, ou se promova um planejamento acurado para 2009, que possa subsidiar as tomadas de decisões quanto às prioridades de investimentos", diz Kelly Carvalho, da Fecomércio-SP.
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